Capítulo 13: Roupa humilhante

Eu fiquei pensativa no meu canto do sofá.Os rapazes, agindo corretamente pela primeira vez na noite, se despediram e foram embora, nos deixando fofocar um pouco mais antes de dormir.
Eu nunca tinha comentado sobre aquela noite com tantos detalhes com as minhas amigas quanto agora, e elas não tinham visto Lysandre no palco com a outra garota, como eu supunha: Eu estava em uma sinuca, já havia perdoado Lys, mas minhas amigas não, pois acabavam de saber. Eu podia sentir que iam complicar mais as coisas na minha relação com ele, se é que seria possível.E se é que ele se importa, sempre parece tão calmo e desprovido de problemas, que eu invejo esta capacidade dele.
Dimitry ainda não estava com o efeito do seu remédio quando Castiel o arrastou para casa, como um bom primo faria.Lysandre sorriu e me deu um tapa de leve na minha perna, mas foi o suficiente para marcar seus dedos vermelhos em mim, o que me fez quase quebra-lo novamente.Kentin sussurrou algo para Dart e seguiu os demais, Nathaniel teve dificuldades em afastar Alexy e Ambre para levar a irmã para casa. Dakota deu um suave beijo em Leh antes de ir com os outros, enquanto Armin apenas acenou para Layla, corado. Assim que saíram da minha casa, as meninas começaram com a conversa que eu não queria ter.
- ...Não consigo acreditar que ele tenha feito isso.Como continuou á falar com ele, Amanda?- Eu nem mesmo vi quem perguntou, apenas fingi já estar dormindo, o que não era nada difícil pelo horário.Já passava da meia-noite quando eles invadiram a festa, imagine que horas seriam depois e irem a casa de Mylena, retornar com Dimitry, dar-lhe remédio, e contar sobre um eventual show de dois meses atrás.
TRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIM. 
Desta vez, era realmente o despertador, e não a campainha da casa como na ultima vez que aquele som estridente tocara. Mas nem adiantaria eu ser uma das primeiras á levantar, uma vez que teriam sete garotas na minha frente na fila para o banheiro, café da manhã, e tudo que eu tentasse fazer ás pressas.
Apenas fui para o meu quarto lavar o rosto, fazer algum retoque com maquiagem, deixando apenas a escolha de roupas para depois, á que eu não fazia idéia do o que vestir. Foi mais rápido do o que eu imaginara, nenhuma delas atacou o banheiro do meu quarto, apenas o restante dos da casa.
O café já estava na mesa, e eu corri comer algo para poder aproveitar que elas estavam na mesa da cozinha para usufruir sozinha dos meus pertences que ficavam no outro banheiro.
Eu podia ouvi-las na cozinha falando sobre ir mais cedo para a escola, por conta dos clubes da escola, que nos iam “ botar para trabalhar” hoje. Eu era a única delas que não pertencia ao clube de basquete, tampouco ao de jardinagem, já tinha feito ambos, mas ao formarem um clube de teatro, fui uma das poucas que migrou para ele.
– Vai ser divertido, eu sempre fico com o papel principal. - Comentei sozinha, entrando no meu quarto e fechando a porta, já que mesmo havendo apenas garotas na minha casa, eu sinto vergonha em trocar de roupa em frente aos outros.
–Sim, você sempre fica.Mas eu tenho lá minha parcela de ajuda nisto, não? -Impressionantemente levei um susto, jamais imaginei que não estava sozinha no quarto.Me joguei em baixo da cama quando ouvi a voz de Lysandre vir pela janela,já que não me considerava apresentável daquela maneira.
Meu quarto ficava no segundo andar, mas como Lysandre era meu vizinho e seu quarto também ficava no segundo pavimento, ele podia me ver da sacada de seu quarto.Mas desta vez não era na sacada do quarto dele que ele estava.Ele entrou pela janela e jogou um saco em cima da minha cama, que eu já conhecia bem.Era onde ficavam as roupas do teatro da escola,Lysandre quem as levava para a escola, uma vez que eram todas encomendadas do seu irmão. Então era assim que ele tinha feito todos os garotos entrarem mascarados ontem á noite na minha casa, marmanjo abestado.
– Eu já te vi de pijama ontem, esqueceu?-Lysandre se jogou sentado em cima da cama, provavelmente sabia que isso me apertaria em baixo da cama e me faria sair como uma barata que foge do chinelo.
– De qualquer forma, não muda minha reação diante disto. - Eu levantei, na minha camisolinha de seda.Lysandre também já estava usando as roupas da peça de teatro, uma roupa normal.Era peculiar vê-lo vestido daquela forma, mas até que estava muito bonito de jeans e moletom.
–O teatro vai ser após a aula, assim como todas as outras atividades dos clubes do colégio.Mas vamos precisar começar os exames para determinar os papéis no intervalo para já estar decidido na hora do ensaio, e acho melhor já ir tentando incorporar a personagem, por que não vai ser nada fácil. - Lysandre começava á rir enquanto eu abria o saco em cima da minha cama, e retirava o cabide com o vestido preto e branco que me lembrava de alguma coisa.
–WHTF? - Eu não faço ideia de como saiu minha pronúncia em inglês, mas correto que não foi. Lysandre se divertia com a minha reação.
–O papel principal feminino é uma empregada. Levando em conta que eu ajudei á confeccionar a roupa, eu a fiz parecida com algo que você já está familiarizada, em um dos animês que você assiste. Lógico, vestir isso conta como a “ troca” de favor que você há de fazer por mim. - A calma dele em me trazer a roupa da Misaki me deixava ainda mais constrangida e vermelha.
– E qual é a destas orelhas de gatinha? – Tentei parecer o mais ríspida possível, mas é difícil parecer zangada com aquela perfeição da natureza sorridente.
– Não se preocupe você pode tirá-las para a apresentação, elas são apenas para meudivertimento pessoal Ele dizia de forma tão meiga, que nem soava como a tortura que era.
Eu bufei, irada. Fui me trancar no banheiro do meu quarto para vestir aquilo, “ pelo menos não é tão constrangedor quanto fazer o Lysandre já ter ido sem camisa e até mesmo fantasiado de Super Man para a escola, sem dúvidas” eu pensei.
– Como estou? – Eu resmunguei ao sair do banheiro, e me deparar com aquela criatura ainda sentada na minha cama.Ele conhece meus pais, por que continuava ali, correndo risco de vida?
Lysandre não disse nada.Ficou apenas me encarando por quase um minuto, enquanto eu sofria para ter certeza que nenhuma parte da renda tinha ficado presa em baixo do forro, e encarava o modo como meu cabelo teve de ficar preto para conseguir suportar o peso da “tiara” com as orelhas de gata na frente do espelho. Eu via Lysandre refletido nele, com uma mão no queixo, como quem examina um artefato raro.
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Ele esticou os braços, atirado na minha cama ainda em silêncio. Tive a ilusão de que queria ajuda para se levantar, então me virei e dei as minhas mãos para ele e fiz força para levantá-lo de lá.Inútil, ele nem se mexeu, e o dobro da força que eu usei  somados á gravidade e aos músculos de Lysandre me puxaram para si, onde, quando me dei conta já estava em seu colo.
– Tinha esquecido que você era mais forte que eu. - Ter conseguido chutá-lo quando invadiu a minha festa no pijama pela janela, do mesmo jeito que agora, havia me feito acreditar na falsa ilusão de que eu conseguia escapar dos seus braços, mas não.
–Não é justo, eu já te deixei ganhar uma vez, gatinha. - Lysandre sorriu me dando um beijo enquanto me abraçava. Eu brinquei, pronunciando um “Miaw” , fazendo-o me abraçar mais apertado. Realmente combinavam com as orelhinhas da fantasia que eu odiei tanto, só não entendo por que ele gostou tanto das orelhas e da minha imitação de gato.
Odiava o que ele fez aquele dia no show, odiava não conseguir sair do colo dele, na minha cama, odiava seu sorriso cínico e sem inocência, odeio aquelas roupas cafonas, e odeio amá-lo. Mas também amo todas as suas qualidades e defeitos, assim como eu me sinto um ser vivo perfeito e sem defeito algum quanto estou com ele. O amo e fim,não espero que você entenda. Mas eu sei que entende porque eu não sinto apenas a alegria quando estou com ele, já que ele mesmo disse o motivo na frente de todas as minhas amigas.
Eu não sei ao certo por quanto tempo trocamos saliva , mas sei que foi pouco demais para o meu corpo, apesar de ter ficado sem ar pelo menos duas vezes.Quando menos esperava, Lysandre rolou na cama e me prendeu em baixo de si por alguns minutos, rindo de mim, que esperneava tentando escapar, fazendo “ Fsssst” como uma gata brava. – Leigh está com o carro aqui na frente, te espero lá.- Foi a última coisa que Lys disse antes de me soltar e pular pela janela. Eu não entendi por que ele saiu tão rápido, até a minha mãe bater á porta meio segundo depois que ele saiu daquela maneira. Eu nunca vou entender como meus pais acham que o Lysandre é “um santinho”.
– Amanda, por que abandonou suas amigas lá em baixo?-Minha mãe dizia baixo, sem querer que as visitas ouvissem. Eu abri a porta, extremamente sem jeito, pelo “ furacão” que acabara de me atacar e eu não tinha nem tido tempo de anotar a placa.
– Por causa da roupa do teatro, mãe. Senti vergonha de descer assim. - Eu sibilei o que não deixava de ser uma verdade. Minha mãe, ao me ver, começou á rir histericamente, provando que eu não era adotada, já que ela ria como eu. Então, minha mãe saiu correndo e voltou com a câmera, me achando “ uma gracinha”, que agora era uma gracinha cega graças ao abençoado flash .
– Eu vou indo... - Tentei fugir dela com a câmera, pegando a mochila e correndo para a porta, onde estava Lysandre e Leigh, como ele havia me dito.
Entrei no  carro ás pressas, e Leigh ria baixinho das minhas roupas.Lysandre se curvou em cima de mim, me fazendo colar na porta do carro, o que não me impedia de sentir aquele hálito que tanto me agradava. - Amanda, sobre aquele show, eu n...-Lysandre parou quando a porta do carro foi aberta, me fazendo despencar para trás. Mas eu não caí no chão,  senti algo me puxar para dentro, e vi Karen e Leh irem até o carro mandar que partissem sem mim. Era Dart quem me arrastava para dentro, séria. Agora todas as minhas amigas estavam me encarando na frente de casa.
–Nós não vamos deixar que você passe tanto tempo com ele, já te machucou uma vez e não queremos ver-lhe daquela maneira novamente. - Não sei se pronunciaram todas juntas, já que eu fixei meus olhos no chão. Eu sei que elas queriam apenas o meu bem e tinham razão, mas afinal, ele também achou que eu tinha beijado o Kentin.E era diferente dele ter dado um selinho em uma garota da platéia, já que ele  sempre teve ciúmes do Ken; a sensação de Lysandre deve ter sido muito pior á minha,mas já que mal demonstrava seus sentimentos em público, mais ninguém percebia que eram duas vítimas, e não apenas eu.Meu coração julgava um ato perdoável, levando em conta tudo o que ele fizera depois daquilo para se redimir. 
– Confiem em mim.E eu confio nele.- Assegurei, cerrando os punhos. Elas pareceram terem se arrependido de se meterem, mas agora já era tarde demais. Pelo menos para a carona, seria o mico do século pegar ônibus vestindo aquilo.
- ..Já percebeu que, por causa do comprimento desta roupa, a marca da mão de Lysandre do tapa na sua perna que ele deu ontem, antes de ir embora, fica aparecendo? – Disse Karen, rindo.
– LYSANDRE, EU TE MATO. – Eu gritei quando vi a marca, da qual não tinha reparado ainda.

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