Capítulo 15: Medo

Lysandre, aproveitando que Barbie saiu correndo do corredor, me prendeu contra os armários da escola e tentou me beijar ali mesmo, apesar de eu detestar demonstrar afeto em locais públicos, como a escola,  e ele sabe.Mas eu até mesmo esqueci onde estava, diante daquele ato que me deixava sem ar, beijando-o contra a parede de armários, que depois deixariam minhas costas totalmente doloridas, mas pouco importava.
– Vamos procurar a Karen antes de voltar ao clube de teatro, preciso falar com ela sobre Nathaniel - Eu disse, tentando tirar a mão do peito quente de Lysandre , e a outra da sua nuca, mas por alguma razão era mais forte que eu.
– Você quem sabe. - Lysandre estava com as bochechas coradas, cutucou as minhas orelhas de gatinha com uma das mãos, para me fazer lembrar que eu ainda estava usando aquela roupa ridícula, e foi comigo até a estufa procurar por Karen.
–Iih, chegou tarde, acabou de sair com Nathaniel. Com sorte, ainda os encontra na frente da escola, melhor correr. - Disse Dart, imunda de terra até onde a vista alcançava.
– Obrigada.- Eu disse, obedecendo ao conselho de correr. Não sendo o bastante, eu não encontrei Kah nem Nath na frente da escola, apenas outras pessoas igualmente importantes para mim no momento. Eu senti um calor atrás de mim, era Lysandre que demorou um pouco mais que eu para chegar até a frente do portão central do colégio. Ele pode ser mais forte, mas não é mais rápido que eu mesmo quando estou de salto agulha para parecer que tenho mais de um metro e meio de altura.
– POR QUE DEU UM BUQUÊ DE ROSAS PARA ESTA GAROTA TÃO MAIS FEIA QUE EU? -Bea berrava á Jade, derrubando a outra garota no chão e começando á chutá-la toda, inclusive no estômago. Os olhos de Jade se dilataram diante aquela cena, a garota no chão começava á babar sangue incontrolavelmente.
Eu me desprendi de Lysandre, que me segurava pela cintura como sempre, e saí correndo para entrar na frente de Bea e resgatar a garota que apanhava no chão ainda com vida, se possível.
– A escola precisa arrecadar dinheiro para um evento, os buquês que dei á ela são para vender, Beatriz. Eu não dei flores á outra garota. - Dizia Jade, assustado. Ele se colou na parede, sempre achara Bea tão doce e meiga, aposto que nunca tinha a visto daquela maneira doentia e sanguinária. Mas eu já.
–É verdade. As peças de teatro também são para arrecadar fundos para a escola, não é mesmo? Ele diz a verdade. - Disse Lysandre, que entrou na minha frente enquanto eu ajudava a garota no chão, para eu não correr o risco de ser chutada por Bea-chan também.Bea parecia começar a se acalmar com  a intervenção minha e de Lys.
- ...Então não deu flores á outra garota?- Dizia Beatriz, inclinando o rosto para enxergar  o rosto assustado de Jade atrás de Lysandre.
Jade veio até Bea, colocando uma de suas mãos á acariciar o rosto da menina. – Não.Acho que tenho me preocupado demais com a estufa, para ter lhe causado esta preocupação.Apesar do evento da escola e de tudo que precisa ser feito, hoje não farei mais buquê algum.Minha atenção é toda sua, minha rosa.-Disse carinhosamente Jade, á segurar Bea pela cintura e sair andando com ela escola afora, deixando á mim no chão com a aluna machucada, como se ela nem existisse. Lys-Fofo me ajudou á carrega-la até a enfermaria, que agradeceu nossa ajuda, apesar de achar estranho, e de nós não contarmos quem a fez cuspir sangue daquele jeito.
Voltamos rapidamente ao clube de teatro, onde já estavam fazendo as apresentações para selecionarem os papéis. Layla e Armin estavam sob o palco, representando uma cena romântica do casal secundário, que seriam, no caso, Isabelle e Castiel, já que, todo mundo sabia da queda de Ambre por Castiel por causa de um evento no passado.
Apesar de eu saber que Lay e Armin “se gostam”, eles eram patos demais para se tocarem, e deixavam fluir seus sentimentos um pelo outro nos papéis, o que passava uma verdade que, os faria serem aceitos nos papéis.
–É a vez de vocês. - Sussurrou Barbie, fazendo á mim e Lysandre subirmos no palco. Eu me joguei no chão de madeira e comecei á chorar alto e como uma criança, mentalizando o modo como eu chorei quando meu ultimo cachorro morreu, ele era como um irmão para mim.
Lysandre veio sereno e parecendo sem entender nada em minha direção. Ajoelhou-se sobre uma perna, pegando meu queixo com uma de suas mãos para me fazer olhar diretamente em seus olhos multicolores. -.. Eu sei que gostava dele por que se importou com você quando era pequena. Mas ele não se importa mais, veja como consegue ser grosso com uma rosa tão delicada quanto você. - Lysandre me fez ficar de pé, mas meus pés não estavam realmente tocando o chão: ele me abraçava agora, e meus pés pendiam sob o ar, era nítido que eu estava praticamente em seu colo. – Eu, por outro lado, tenho me preocupado com você á cada dia, á cada vez que vejo você sofrer, e fingir ser rude para ser aceita por ele. Deixe-me te amar, Barbie. Deixe-me amar a verdadeira você.- Lysandre dizia estas palavras com verdadeira doçura, que me faziam parar de chorar e lhe dar um beijo. Era a interpretação perfeita do último ato da peça, que fez Barbie nos aplaudir de pé a cena que ela mesma escrevera o professor também parecia muito satisfeito com nossa interpretação. Mas nós já sabíamos que ficaríamos com os papéis que seriam Ambre e Alexy na vida real.
Depois disto, passei o resto das aulas ali ensaiando para a peça. Era divertido não ter aula no dia dos clubes, mas a partir de amanhã teríamos aulas normais, e teatro após as aulas.  Odeio voltar para casa tarde, mas não posso fazer nada.
– Vou ir almoçar com as garotas, até daqui á pouco.-Me despedi de Lysandre com um beijo no pescoço, e fui andando até a lanchonete que eu e as garotas costumávamos ir. Deparei-me com elas paradas na frente da porta da lanchonete, faltando apenas Karine e Beatriz por motivos óbvios.Dart” Vader” e Layla estavam com elas também.
–O que houve? - Eu disse. Dart me apontou a mesa que costumávamos frequentar e, logo entendi por que ela e Layla estavam ali também: para encarar a cena. Exatamente na nossa mesa se encontravam Kentin e Barbie, juntos, comendo rindo e se divertindo. Percebi que Mylena tirava algumas fotos dos dois juntos pelo celular, alegando que “ Alexy não ia gostar de ver isto”.
-...Não é nada demais, suas ridículas. É por que Barbie devia dinheiro á Kentin por tê-lo roubado tanto no passado. - Eu apontei á Barbie, pagando a conta com cartão, já que eu a ouvira dizer que não tinha mais dinheiro em papel. Realmente minhas amigas estavam sendo muito bobas, aquilo não era nada. Ela devia á ele, mas minhas amigas nem me ouviram, intrigadas com aquilo.
Acabamos almoçando na cantina da escola mesmo, para não interromper o “casal apaixonado” que nem era um casal. Angel estava inconsolável no canto da mesa, embora fizesse-se forte á cada segundo da sua vida.
O dia acabou rapidamente, já que estava ocupada com Lysandre ensaiando.Fui para casa com Lys-Fofo depois de trocar de roupas , finalmente estava usando algo normal.Mas precisaria ficar vestida de Maid todos os dias ,até o dia da peça da escola, por sorte só durante os treinos e a peça em si.
– Até amanhã, Lys! - Eu sorri, abraçando-o e entrando em casa, onde ele gentilmente me levou, o que faz sentido, já que ele mora ao lado da minha casa.
-... Layla, Dart, Armin, oi. - Eu levei uma surpresa ao vê-los no sofá da minha casa,  tinha esquecido que era dia de vídeo-games, justamente pela ausência de Leh, Karen e Kentin, que eram a alma da brincadeira, mas estavam “ocupados” com seus respectivos pares, ou não, como no caso de Ken. Começamos jogando Mortal Kombat, eu só perdi para Armin.Layla sempre ganhava de Armin, percebi que ele a deixava ganhar de propósito.
- ...Hoje, Alexy me contou que você desenha muito, Armin. Posso ver?- Layla perguntou hesitante. Ela comentara algo comigo sobre Armin não abrir a porta de seu armário da escola quando ela estava por perto, expulsando-a de perto do armário quando precisava abri-lo, que era onde Alexy disse que o irmão guardava seus melhores desenhos. Estranho, no mínimo.
– Não. - Armin respondeu antes mesmo de a garota terminar a pergunta, o que nos fez silenciar até todos irem embora, cada um para seu lado. Armin estava vermelho como uma pimenta, Layla decepcionada e tentando descobrir o que dissera de errado, Dart incomodada com o fato do melhor amigo ter saído com a pior vilã e não voltado mais, e eu com a melhor amiga que evaporou, não atendia celular e os pais me disseram que ela tinha saído com Nathaniel quando liguei na casa dela.Os pais dela disseram que a avisariam que eu liguei, assim que ela chegasse em casa. Mas eu até mesmo dormi, sem receber ligação alguma.
No dia seguinte, Lysandre parecia igualmente preocupado com Karine, fomos rapidamente á escola, e pela primeira vez entrando por ela juntos e de mãos dadas, fomos diretamente á sala dos representantes.Eu entrei na frente, enquanto Lysandre batia a porta.
– Muito bem, onde está a Karen?- Eu comecei a encará-lo, e percebi que ele carregava uma corrente na mão. Ela possuía um encaixe na ponta, que só se abria e fechava com chave.Seria uma corrente para coleiras de cachorro, se não pela peculiaridade da necessidade de uma chave.
-..Ela esta na sala de aula, está bem.Eu garanto.Ela não te ligou por que voltamos tarde, e não queríamos te acordar. A diretora me informou que ficaram até tarde na escola ontem, por conta da peça de teatro.Parabéns por serem os protagonistas. - Nathaniel disse friamente, tentando esconder a corrente atrás do próprio corpo.Ele era extremamente alérgico á pelo de animais, não poderia ser de um bichinho, como parecia.
– Aqui estão os papéis que a  diretora mandou trazer. - Dizia uma voz feminina, que tentava abrir a porta, se não pelo corpo de Lysandre trancando-a. Ele deixou entrar, assim que percebeu que era Karine.A moça entrou com a pilha de papéis, seus óculos, alguns hematomas roxos nos braços e nas partes das penas que ficavam visíveis pela saia jeans e ... Um colar novo.
Um colar que parecia querer imitar uma coleira vermelha, se não pela fechadura de uma chave onde deveria ficar a fivela de coleira, era muito bonito. Será apenas coincidência? 
Meus olhos se encheram de lágrimas, enquanto Karen largava os papéis sobre a mesa.
-  SEU MONSTRO! COMO PODE MACHUCÁ-LA? - Eu teria pulado em cima de Nathaniel, se Lysandre não tivesse me segurado, não entendi a finalidade de me impedir, ele mereceria se eu arrancasse a cabeça dele do seu corpo.
-  E-espera Ammy, está tudo bem. - Disse Karen, entrando na frente do loiro que abria um sorriso demoníaco.Eu não sei que tipo de lavagem cerebral ele deve ter feito nela, mas a Seltyh que eu conheço não se permitiria apanhar de um homem. – Eu gostei de tudo o que ele fez comigo, não tem importância. - Karen dizia, colocando as mãos na minha frente, protegendo aquele cafajeste logo atrás dela.
Eu não conseguia assimilar o que acabara de ouvir. Destruía todo o conceito de “ Karen” que eu adquirira nos últimos dez anos de vida, Lysandre que já estava me segurando, me arrastou para fora da sala, enquanto eu encarava os dois.
–Algo contra masoquismo? - Disse Lysandre, começando á rir feito um maníaco. Eu nem me mexi, continuava extremamente chocada. Apesar dele ter acreditado tão fácil, eu acho que Nathaniel de algum modo a obrigou á dizer que gostara, ou talvez por medo, não sei. Mas eu só sei que conheço a melhor amiga que eu tenho, e algo ali me cheirava estranho. Pude ver  o vulto do corpo de Karen correr de um lado para outro dentro da sala, enquanto o vulto de Nathaniel e o barulho da corrente ecoavam lá dentro. Lysandre me afastou da porta, e me levou para a sala de aula.
–Tente esquecer esta cena, tudo bem, querida? - Lysandre ainda ria pela cena ter me chocado.Eu não estranhei, afinal, se ele gostou da mordida que eu dei em seu pescoço até sangrar, ele também não deve ter visto nada de estranho na sala dos representantes.

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